A água que abastece os cerca de 195 mil habitantes de Araçatuba, fornecida pela Samar (Soluções Ambientais de Araçatuba), não é envenenada. A afirmação é da Prefeitura de Araçatuba, com base em dados técnicos da Vigilância Sanitária Municipal; da Agência Reguladora Daea, que fiscaliza os serviços prestados pela concessionária; e do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) do Estado de São Paulo.
Nesta terça-feira (23), a reportagem do site 018 News buscou e obteve informações que contrapõem notícia divulgada no último dia 19 pelo jornal Folha da Região, afirmando que “estudo mostra que araçatubense se envenena a cada copo de água tomado”. Os órgãos ouvidos pela reportagem são enfáticos em afirmar que essa não é uma realidade.
A reportagem publicada pelo jornal é baseada em apontamentos feitos por entidades que lidam com o meio ambiente e dados do Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade para Consumo Humano). No entanto, referente a dados que apontam a existência de moléculas de agrotóxico na água consumida pela população em quantidade inferior ao limite permitido no país.
A publicação do jornal é uma cópia fiel a matéria disponibilizada na internet pela Agência Pública, ligada a organizações que afirmam ter mapeado a situação em 1.396 municípios brasileiros. De fato, o mapeamento disponibilizado indica a existência de substâncias na água consumida pela população dos municípios estudados. Porém, não explica ao leitor que o que vale, em se tratando de abastecimento, é a potabilidade do produto ofertado aos consumidores.
O material publicado, que causou alarde em Araçatuba e uma espécie de “satanização” da água fornecida pela Samar, empresa privada que assumiu os serviços em 2012 e que vem fazendo sucessivos investimentos para melhorar o saneamento básico na cidade, não faz menção à situação de outras 42 cidades da região.
O mesmo “veneno” que sai das torneiras dos araçatubenses também sai das que servem água à população de outras 42 cidades. O jornal optou por assustar a população de uma única cidade em detrimento de esclarecer o que acontece não só em Araçatuba, mas em todo o Brasil e, certamente, no restante do mundo.
A reportagem fala, sem citar quais e suas respectivas quantidades, que podem ser encontrados 27 tipos de agrotóxicos na água que abastece Araçatuba. Do total de pesticidas indicados pela publicação, 11 seriam causadores de doenças crônicas, como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endocrinológicos.
Os dados que embasaram a reportagem do jornal Folha da Região foram registrados entre 2014 e 2017. Para efeito comparativo, de danos que poderiam ter sido causados pela “água envenenada” que sai das torneiras da cidade, a publicação poderia ter usado as estatísticas de mortalidade infantil registradas no mesmo período e que indicaram queda no número de crianças mortas a cada mil que nasceram no município. Um sinal de que, fosse a água o problema dos araçatubenses, a mortandade de bebês poderia ter disparado no período em questão.
O QUE DIZ A PREFEITURA
A reportagem do 018 News questionou, nesta terça-feira, a Prefeitura de Araçatuba, sobre as notícias de que a água que sai das torneiras da população seria envenenada. A assessoria de imprensa afirma que a reportagem da Folha da Região “faltou com muita informação” ao levar a seis leitores, sem ao menos questionar os órgãos municipais, informação sobre o abastecimento da cidade.
“Infelizmente, a matéria faltou com muita informação que tanto a Prefeitura quanto a Agência Reguladora DAEA (que regula os serviços prestados pela Samar) têm referente ao assunto. Deve ser esclarecido à população que, apesar de esse estudo ser realizado em diversas cidades do Brasil, embasado também em estudos internacionais, o fato de serem detectadas moléculas oriundas de produtos químicos na água e na alimentação, a quantidade analisada fica muito abaixo do mínimo aceitável pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Ou seja, é como as moléculas químicas naturais de cada tipo de água, alcalina ou ácida. Cada uma tem sua composição química natural, com elementos diluídos e que não prejudicam a saúde”, explica a prefeitura por meio de sua assessoria de imprensa. “Apesar de existirem muitos estudos internacionais que vinculam determinadas moléculas a determinadas doenças, vários deles permanecem inconclusivos. No caso da Samar, a concessionária segue os padrões de análises periódicas da água e de tratamento da mesma para que atenda a todos os padrões estipulados pela OMS, conhecidos e monitorados pela Agência Reguladora DAEA”.
Questionada, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Araçatuba afirma que, após ler o noticiário, o prefeito Dilador Borges (PSDB) pediu que as secretarias competentes se reunissem para verificar os dados atuais, e posteriormente conversassem com a SAMAR para esclarecer à população os fatos de forma verídica, passando os métodos utilizados.
O QUE DIZ A VIGILÂNCIA SANITÁRIA
A Vigilância Sanitária Municipal emitiu, nesta terça-feira, nota atestando a qualidade da água da Samar e sua potabilidade para o consumo humano. O órgão afirma que todos os testes por ele feitos e amostras colhidas em diferentes pontos da cidade, nas entradas dos cavaletes de residências e estabelecimentos comerciais, atendem aos parâmetros estabelecidos pela Portaria de Consolidação Nº 5, de 28 de Setembro de 2017, Anexo XX do Ministério da Saúde.
Compete à vigilância fazer a fiscalização da empresa que gerencia a captação, tratamento e distribuição da água do abastecimento público de Araçatuba, por meio de análises de 25 amostras colhidas mensalmente, totalizando 300 coletas anuais e, através do sistema SISAGUA, do Ministério da Saúde.
“As amostras são coletadas em pontos aleatórios do município, sempre na entrada do sistema de distribuição (cavalete/hidrômetro); são enviadas ao laboratório oficial do Estado de São Paulo, Instituto Adolfo Lutz, que as analisa. Os resultados são inseridos no sistema SISAGUA.
O QUE DIZ O DAEE
Ouvido pela reportagem do 018 News, o diretor do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) do Estado de São Paulo, Luiz Otávio Manfré, foi mais um que rebateu a publicação do jornal e procurou desmentir que a água que chega às torneiras da população seja envenenada.
Ele afirma que os agrotóxicos que chegam aos mananciais, em decorrência da agricultura e, em especial, do cultivo da cana na região, trata-se de uma poluição difusa e que não interfere na qualidade da água ingerida pela população.
“Em cidade que usa água de rio sempre aparecem traços de agrotóxicos em determinadas épocas, mas sempre abaixo dos índices permitidos pela portaria do Ministério da Saúde. Ou seja, a água está potável”, afirma.
O QUE DIZ A SAMAR
Após a publicação de reportagem afirmando que o araçatubense bebe água envenenada, a Samar, concessionária responsável pelo abastecimento na cidade, emitiu nota também rechaçando a informação. A empresa defende em seus tópicos a qualidade da água que chega à população de Araçatuba:
1. A qualidade da água distribuída à população de Araçatuba obedece integralmente aos parâmetros exigidos pela legislação brasileira, definidos no Anexo XX da Portaria de Consolidação 5/2017, do Ministério da Saúde.
2. A legislação define os parâmetros e a frequência do monitoramento que devem ser realizados no controle de qualidade da água produzida e distribuída.
3. Em Araçatuba, a SAMAR realiza mensalmente uma média de mil análises, todas referendadas por engenheiro químico responsável técnico, que avaliam características diversas, como turbidez da água, cor, cloro, coliformes totais, e, inclusive, análises que aferem parâmetros de metais e a presença de agrotóxicos.
4. As análises são realizadas também por laboratórios acreditados na ISO 17.025, que desde o início da concessão demonstram que os níveis atendem integralmente à legislação brasileira em vigor e estão dentro dos valores permitidos. Os Relatórios de Qualidade da água são enviados mensalmente ao Ministério da Saúde e disponibilizados no Sisagua para as Vigilâncias Sanitárias tanto do estado como do município.
5. Por isso, a SAMAR tem segurança em garantir que a água que abastece à população de Araçatuba obedece aos padrões de qualidade e potabilidade, pois está dentro dos limites de segurança estabelecidos pelas autoridades brasileiras da saúde.
6. Por fim, reafirmamos nosso compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população de Araçatuba.