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Uma série de ameaças de morte feitas a um líder comunitário de Araçatuba, no início deste mês, vazou via aplicativo Whatsapp nas últimas semanas, criando um grande embaraço para o prefeito Dilador Borges (PSDB) e três coronéis aposentados da Polícia Militar local, que hoje ocupam cargos comissionados no primeiro escalão da gestão tucana.
O Araçatuba e Região teve acesso a 15 impressões de tela de um telefone celular usado para receber e trocar mensagens entre o autor das ameaças e o líder comunitário. O responsável pelo conteúdo ameaçador é um radialista que apresenta programa noticioso logo pela manhã, em uma das mais tradicionais emissoras de rádio FM da cidade e que sempre faz defesas contundentes da administração municipal em suas apresentações e página pessoal na rede social Facebook.
O conteúdo das mensagens é assustador, pois o referido radialista fala como se representasse a cúpula da administração municipal. No diálogo, ele cita um conflito ocorrido no novo Pronto-Socorro Municipal, dias antes de o mesmo ser inaugurado, entre Dilador e amigos do líder comunitário, que estava presente no local.
Na conversa, o responsável pelas ameaças fala em tiros por parte dos integrantes do governo municipal, citando os sobrenomes dos militares comissionados. No caso, o atual secretário de Comunicação e chefe de Gabinete, Deocleciano Borella; o Corregedor-Geral, Jaime Gardenal Júnior; e o assessor executivo da secretaria de Administração, Carlos Alberto Coelho Salesse.
O Araçatuba e Região separou frases contidas nas mensagens para ilustrar o conteúdo de ameaças feitas pelo radialista: “Sim, mas com certeza vocês iriam direto para o IML (Instituto Médico Legal)”, fala ele em um dos trechos onde menciona o eventual uso de arma de fogo contra os representantes comunitários, que têm feito questionamentos ao atual governo. “Ele não ia atirar, mas sim os cargos", continua.
As ameaças prosseguiram e o radialista começou a citar os nomes dos militares comissionados. “Se o Gardenal tivesse lá, com certeza vcs teriam apanhado ou o Salesse". E foi adiante: "Os caras são karatecas. Batem pesado e só andam armados", escreve. "Atiram e depois perguntam".
Ele prossegue com o tom mesmo tom quando o líder comunitário diz que, caso fosse agredido ou baleado, já estaria em frente ao Pronto-Socorro, passando a conotação de que poderia ser atendido naquele local. "Sim, mas com certeza vcs iriam para o IML", afirma.
Em outro trecho, o radialista ele fala diretamente do prefeito araçatubense. "Não sei como o Dilador não deu um soco em vocês", afirma. “Tô sabendo que chegou a armar o soco", prossegue ele, citando mais um nome de militar que atua no governo municipal. “O Borella estava ao lado. No mínimo estava armado. Não morreram por pouco", declara.
Nas mensagens, o radialista ainda fala sobre um possível interesse do líder comunitário e de seus amigos por cargos comissionados na administração municipal. “DILADOR AVISA aos pedintes de cargos. Não Tenho”, afirma o radialista, que é questionado.
“Mas envelopinho tem né. Tô sabendo”, afirma o representante de bairro, que é imediatamente repreendido pelo radialista: “Não sei… Do Dilador tenho certeza que não. Até porque o grupinho dos trezentinhos estão (sic) parecendo passarinho esperando comida”, afirma.
Em outro momento da conversa, o radialista faz incisivos elogios ao atual chefe do Executivo. “O Dilador é o melhor prefeito dos últimos quarenta anos. Honesto. Não tem esquema. E tá matando a pau”, declara.
O radialista ainda desdenha do líder comunitário, dizendo que o prefeito o mandou perguntar se ele queria ingresso para a Exposição Agropecuária de Araçatuba. “Dilador quer saber se vc quer ir na expô”, diz num trecho da conversa e insiste logo em seguida. “Bom ele mandou oferecer um ingressinho para vocês hj”, afirma, em tom de deboche.
INFORMAÇÕES CONFIRMADAS
A reportagem do Araçatuba e Região confirmou todo o conteúdo ao qual teve acesso. O líder comunitário disse o que aconteceu no dia das ameaças e também afirmou que nesta terça-feira (31) recebeu ligação telefônica do radialista, dizendo que o secretário Borella registraria boletim de ocorrência, porém sem especificar contra quem.
Da mesma forma, o Araçatuba e Região enviou questionário sobre o diálogo à assessoria de imprensa da Prefeitura. O pedido de informações foi feito por e-mail, às 10h desta terça-feira, 31 de julho de 2018. A Prefeitura, no entanto, não respondeu aos questionamentos até a conclusão desta reportagem.
Além de nove perguntas sobre eventuais procedimentos adotados pelo governo municipal, a reportagem encaminhou seis das 15 imagens que recebeu do diálogo via Whatsapp, para que a administração municipal tomasse conhecimento. O site optou por preservar o nome do radialista, por ora, por entender que, diante dos fatos, as partes envolvidas devem tomar algum tipo de providência, uma vez que ameaça é crime e, tanto o líder comunitário como os integrantes da administração municipal são vítimas do perigoso diálogo.
LEI E VEJA A ÍNTEGRA DAS PERGUNTAS FEITAS AO GOVERNO MUNICIPAL:
Prezada assessoria,
Há pelo menos 11 dias, circula pela rede social Whatsapp, diálogos de um profissional da imprensa de Araçatuba, com um líder comunitário, com sérias ameaças que envolvem os nomes do prefeito Dilador Borges, do secretário de comunicação Deocleciano Borella; do corregedor-geral Jaime Gardenal Júnior e do assessor-executivo da secretaria de Administração, Carlos Alberto Coelho Salesse.
Em 15 prints de tela de um telefone celular, enviados ao Araçatuba e Região, o profissional da imprensa local mantém um diálogo ameaçador como se falasse em nome do governo municipal. Conforme seis mensagens anexadas neste pedido de informação, a pessoa que faz ameaça diz ao líder comunitário que ele e outras pessoas aliadas iriam para o IML, referindo-se a um eventual encontro do ameaçado com o prefeito, diante do novo Pronto-Socorro, antes de sua inauguração.
"Ele não ia atirar, mas sim os cargos"; "Se o Gardenal tivesse lá, com certeza vc teriam apanhado ou o Salesse"; "Os caras são karatecas. Batem pesado e só andam armados"; "Atiram e depois perguntam"; "Sim, mas com certeza vcs iriam para o IML". "Não sei como o Dilador não deu um soco em vocês"; "Tô sabendo que chegou a armar o soco"; "O Borella estava ao lado. No mínimo estava armado. Não morreram po pouco".
Estas são algumas frases contidas no diálogo que, no entendimento do Araçatuba e Região, precisam ser esclarecidas pela administração municipal, uma vez que o ameaçador claramente fala como se fosse um representante do governo municipal. Desta forma, gostaríamos de obter respostas para tais perguntas:
1 - A administração municipal tem conhecimento desse diálogo que circula pela rede social Whatsapp?
2 - A Prefeitura identificou o autor das ameaças? Pode dizer o nome dele?
3 - A Prefeitura registrou algum boletim de ocorrência, uma vez que se espalha pela cidade um diálogo que denigre a imagem de integrantes do governo municipal?
4 - Caso tenha registrado boletim de ocorrência, a Prefeitura pode tornar pública cópia de tal documento?
5 - Caso a Prefeitura não tenha tomado nenhuma providência, qual o motivo da omissão?
6 - A Prefeitura chegou a conversar com o líder comunitário que registrou tal diálogo com o profissional da imprensa que fez tais ameaças em nome do Executivo?
7 - O que o prefeito Dilador Borges tem a dizer sobre isso? Ele compactua com esse tipo de ação?
8 - O profissional de imprensa em questão tem algum vínculo com a Prefeitura? Ele recebe algum tipo de incentivo, seja por meio de publicidade, para noticiar coisas positivas do governo?
9 - Caso o profissional seja beneficiado pela Prefeitura, de alguma forma, após esse caso grave a Prefeitura pretende manter eventual incentivo destinado a ele?