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NOVOS TEMPOS COM RAIZ EM ARAÇATUBA, ENTERRADO EM CAMPO GRANDE (MS)

Nada de tradição e saudosismo. O professor, jornalista e blogueiro Hélio Consolaro escreve sobre Araçatuba dos “velhos tempos” e observa as mudanças da cidade

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Vou escrever sobre Araçatuba de tempos atrás, mas sem saudosismo. Há pessoas que estavam bem na vida, então a saudade tem razão. Este cronista era um auxiliar de escritório, perdido com sua bicicleta nas ruas da cidade. A minha única ideologia era ouvir meu pai dizer que os filhos iam vencer na vida estudando.

 

Houve tempos em que 90% da cidade morava na zona rural. A vida da roça fornecia todos os alimentos. A cidade supria seus habitantes com roupa, cultos, farmácia, ferramentas e médicos. Sentiu-se falta de hospital, então fundou-se a Santa Casa de Misericórdia.

 

A verticalidade de nossos prédios se resumia aos edifícios Paiva (praça Rui Barbosa) e Araçatuba (rua Osvaldo Cruz), também a torre da igreja matriz que foi destruída em nome do progresso.

 

Não tinha 50 mil habitantes. Quando fui vereador 1982-88, o sonho de Araçatuba era chegar a 100 mil habitantes. Hoje passamos dos 200 mil. Naquela época os trabalhadores andavam de bicicleta, hoje lotam as ruas com suas motos, prestando serviços.

 

Na crise do algodão, mineiros compraram as terras dos sitiantes quebrados, iniciando a concentração de terras em mãos de poucos, surgiam os chamados latifúndios. Era a chegada do boi e a construção de mansões na cidade. Norte do Paraná era a nova terra prometida para a italianada. Fazendeirada mandava e desmandava na cidade. Enquanto isso, a professora Odette Costa, filha de ferroviário, punha essa gente em sua coluna social.

 

Havia na cidade o triângulo do poder: Araçatuba Clube, Sindicato Rural (Siran) e a Associação Comercial.

 

Os fazendeiros de Araçatuba administravam suas fazendas do Centro-Oeste do Brasil por meio de rádio amador. A praça Rui Barbosa era chamada de "Praça do Boi", uma espécie de bolsa de valores da pecuária brasileira.

 

Na década de 70, o município de Araçatuba e adjacências se encheram de canaviais, usinas de etanol e boias-frias. A periferia ficou mais pobre. Começou-se a falar em agronegócio.

 

Escrevo isso porque nem 10% da população conhece a história da cidade onde mora. Volúvel. Trata-se de um lugar de passagem para muita gente, uma parada para seguir viagem anos depois.

 

Recentemente, neto e bisneto de um desses famosos pecuaristas morreram em acidente de avião, veículo próprio, em Mato Grosso, mas foram enterrados em Campo Grande (MS). Sinal de mudança de mentalidade.

 

As cidades do Centro-Oeste brasileiro cresceram e ofereciam conforto e tecnologia. Tais famílias tradicionais de Araçatuba abandonaram a cidade. Há até quem diga que o dinheiro mudou de mão, a classe dominante passou a ser outra. As mansões foram desaparecendo, surgiram os condomínios de luxo. O Jardim Nova Iorque perdeu sua importância. Até o cronista da cidade ganhou um perfil diferente. 

 

Este cronista, sujeito estudado, com olhos septuagenários e algumas ferramentas sociológicas, registra a evolução (ou involução) do município onde nasceu, sem saudosismo, por interesse histórico.

 

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor

 

(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)

 

PECUARISTA E O FILHO SERÃO SEPULTADOS EM CAMPO GRANDE (MS)

 


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